terça-feira, 29 de maio de 2012

Vaticano nega envolvimento de cardeal no escândalo 'Vatileaks'

O porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, rejeitou nesta segunda-feira as informações divulgadas pela imprensa italiana de que um cardeal seria suspeito de ter um grande papel no escândalo "Vatileaks", em que documentos confidenciais da Igreja Católica foram vazados desde janeiro.




Foto: ReutersPaolo Gabriele (no canto inferior à esquerda) com o Papa Bento 16 em foto tirada no dia 23/05
"Não há nenhum cardeal investigado, nem italiano nem não italiano", disse, acrescentando que o papa Bento 16 "tem consciência de que se trata de uma situação delicada vivida pela Cúria". De acordo com Lombardi, muitas autoridades do Vaticano estão sendo questionadas, mas afirmou que "não há nenhum cardeal sob suspeita".
Um dos maiores escândalos do Vaticano em décadas parece ter-se ampliado nesta segunda com a decisão do mordomo do papa desde 2006, Paolo Gabriele, de cooperar com os investigadores. A promessa de colaboração de Gabriele, preso há três dias, levanta a perspectiva de que prelados de alta hierarquia podem em breve ser nomeados na investigação sobre os vazamentos, que lançou luz sobre as disputas de poder e a intriga dentro da Igreja.

Gabriele foi detido na sexta por supostamente entregar documentos a jornalistas, mas, segundo os jornais Corriere della Sera e Il Messaggero, o mordomo do papa claramente não teria agido sozinho e um cardeal não identificado seria suspeito de ter tido um grande papel no escândalo.
Segundo especialistas italianos em assuntos vaticanos citados pela imprensa, Gabriele, que sempre se mostrou muito apegado ao papa, não parece ser capaz de organizar sozinho o "Vatileaks".
Iniciada há quase um mês, a investigação do Vaticano sobre a fonte dos documentos vazados desde janeiro atingiu seu primeiro alvo com a prisão do mordomo Gabriele, que supostamente mantinha vários documentos guardados em sua casa.
De acordo com informações divulgadas pela imprensa italiana, o cardeal não identificado teria sido o responsável por manipular Gabriele, que seria apenas um executor. "Um cardeal guiou o 'corvo' (a pessoa que vazou os documentos)", disse a manchete do jornal romano Il Messaggero, enquanto o grande jornal milanês Corriere della Sera afirmou que havia "um cardeal entre os informantes anônimos".
Um livro publicado há oito dias na Itália contém um número sem precedentes de documentos confidenciais sobre numerosos debates internos do Vaticano, como a situação fiscal da Igreja ou os escândalos de pedofilia dentro do movimento dos Legionários de Cristo.
Esses documentos revelam as disputas e rancores que existem entre diversos cardeais e autoridades, que acusam uns aos outros e depois recorrem ao papa para dirimir os conflitos.
Um dos informantes anônimos, interrogado pelo periódico La Repubblica, considera que a pessoa que organizou os vazamentos "atua em favor do papa". "O objetivo dos autores anônimos é revelar a corrupção que existe na Igreja nos últimos anos", segundo essa fonte. "Os verdadeiros cérebros são os cardeais. E depois há monsenhores, secretários e peixes menores", acrescentou.
Entre os infiltrados "estão os que se opõem ao cardeal secretário de Estado Tarcisio Bertone, os que pensam que Bento 16 é muito fraco para dirigir a Igreja e os que acham que é o momento oportuno para se destacar", disse a mesma fonte anônima.
Segundo ela, o papa sentiu muito a destituição na quinta-feira do presidente do banco do Vaticano IOR, Ettore Gotti Tedeschi, a quem apreciava muito. Tedeschi foi destituído por sua gestão, mas também, segundo fontes vaticanas, porque havia divulgado fora do Santa Sé alguns documentos relativos ao banco.
*Com AP, AFP e Ansa

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