terça-feira, 27 de março de 2012

Wilson Simonal de Castro

Wilson Simonal de Castro (Rio de Janeiro23 de fevereiro de 1939 — 25 de junho de 2000) foi um cantor brasileiro de muito sucesso nas décadas de 1960 e 1970 e de acordo com Luiz Carlos Miéle foi o maior cantor do Brasil. Simonal teve uma filha, Patricia, e dois filhos, também músicos: Wilson Simoninha e Max de Castro.


Biografia


Início da carreira e o sucesso

Filho de uma empregada doméstica, Simonal era cabo do Exército quando começou a cantar, nos bailes do 8º Grupo de Artilharia de Costa Motorizado (8º GACOSM), então sediado no Leblon. Seu repertório se constituía basicamente de calipsos e canções em inglês.
Em 1961, foi crooner do conjunto de calipso Dry Boys, integrando também o conjunto Os Guaranis. Apresentou-se no programa Os brotos comandam, apresentado por Carlos Imperial, um dos grandes responsáveis por seu início de carreira. Cantou nas casas noturnasDrink e Top Club. Foi levado por Luiz Carlos Miéle e Ronaldo Bôscoli para o Beco das Garrafas, que era o reduto da bossa nova. De acordo com o jornalista Ruy Castro, "quando surgiu o cantor no Beco das Garrafas, Simonal era o máximo para seu tempo: grande voz, um senso de divisão igual aos dos melhores cantores americanos e uma capacidade de fazer gato e sapato do ritmo, sem se afastar da melodia ou apelar para os scats fáceis".[1]
Em 1964, viajou pela América do Sul e América Central, junto com o conjunto Bossa Três, do pianista Luís Carlos Vinhas.
De 1966 a 1967, apresentou o programa de TV Show em Si ...monal, pela TV Record - canal 7 de São Paulo. Seu diretor era Carlos Imperial. Revelou-se um showman, fazendo grande sucesso com as músicas País tropical (Jorge Ben), Mamãe passou açúcar em mim(Carlos Imperial), Meu limão, meu limoeiro (José Carlos Burle) e Sá Marina (Antonio Adolfo e Tibério Gaspar) , num swing criado por César Camargo Mariano, que fazia parte do Som Três, junto com Sabá e Toninho, e que foi chamado de pilantragem (uma mistura desamba e soul), movimento também idealizado e capitaneado por Carlos Imperial.[2]
Em 1970, acompanhou a seleção brasileira de futebol na Copa do Mundo, realizada no México, onde tinha como amigos os jogadores de futebol PeléCarlos Alberto e Jairzinho, quando também conheceu o maestro Erlon Chaves.[3]
Nessa época, Simonal era um dos artistas mais populares e bem pagos do Brasil, bastante assediado pela imprensa e pelos fãs. Vivia o auge de sua carreira. Foi o primeiro negro a apresentar sozinho um programa de televisão no país - o Show em Si...Monal, dirigido por Carlos Imperial - no qual era acompanhado por César Camargo MarianoSabá e Toninho, que formavam o Som 3.

Sequestro do contador


No início da década de 1970, Simonal teria sido vítima de um desfalque e demitiu seu contador, Raphael Viviani, o suposto culpado. Este moveu uma ação trabalhista contra o cantor. Em agosto de 1971, Simonal recrutou dois amigos (um deles seu segurança) militares para arrancar uma "confissão" do contador, que foi torturado nas dependências do Dops.[5] Este, afinal, acabou assinando a confissão de culpa no desfalque.
Simonal conhecia os agentes do Dops há dois anos, quando havia deposto, como suspeito, a respeito da presença de uma bandeira soviética no cenário de um de seus shows. O que ele não contava era que Viviani daria queixa do espancamento e, quando os jornais noticiaram o fato, os envolvidos foram obrigados a se explicar.

Relações com a polícia, política e órgãos de informação


Processado sob acusação de extorsão mediante sequestro do contador, Simonal levou como testemunha aquele mesmo policial do Departamento de Ordem Política e Social do então Estado da Guanabara, Mário Borges, que o apontou em julgamento como informante do Dops. Outra testemunha de defesa, um oficial do I Exército (atual Comando Militar do Leste), afirmou que o réu colaborava com a unidade.
Simonal foi julgado culpado pelo sequestro e, em 1972, quando estava prestes a lançar o seu "disco de retomada", condenado a uma pena de cinco anos e quatro meses, que cumpriu em liberdade. Nos autos, Simonal era referido como colaborador das Forças Armadas e informante do DOPS. Em 1976, emacórdão do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, também é referida a sua condição de colaborador do DOPS.[6]
"Em sua argumentação final, o ilustre meritíssimo alega que não tem como julgar os agentes do DOPS, já que estávamos vivendo um estado de exceção e, por isso, ele não tinha competência para julgar atos que poderiam ser de segurança nacional, mas Wilson Simonal, que era civil, não tinha esse tipo de “cobertura”, portanto pena de 5 anos e 4 meses para ele(...) Se em 1971 fosse provado que ele era um colaborador, ele não seria julgado por isso, seria condecorado," escreve o comediante Claudio Manoel, produtor e diretor do documentário "Simonal - Ninguém Sabe o Duro que Dei".[7]
O compositor Paulo Vanzolini, no entanto, afirma, em entrevista ao Caderno 2 do Estadão, que Simonal era, de fato, "dedo duro" do regime militar e complementa: "Essa recuperação que estão fazendo do Simonal é falsa. Ele era dedo-duro mesmo. Ele se gabava de ser dedo-duro da ditadura' (...) na frente de muitos amigos ele dizia 'eu entreguei muita gente boa' ", conclui.[8] No entanto, jamais houve registro de alguém que declarasse ter sido delatado por Simonal. Nem mesmo a Rede Globo, a qual Simonal jurava que havia um documento proibindo sua entrada nos programas da emissora, registra que haja documentos vetando o cantor. Sobre isso, o superintendente de produção e programação da Globo à época, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, reafirma que nunca partiu da direção da emissora nenhuma proibição à presença de Simonal em suas atrações. Boni alega que a sua ausência na Globo se dava por ser considerado pelos diretores dos programas musicais uma pessoa de difícil relacionamento profissional.
Raphael Viviani, em depoimento para o filme, relata que Simonal estaria no Dops e teria assistido à sua tortura e não teria tido dó.[9]
O humorista Chico Anysio e o jornalista Nelson Motta, dentre outras personalidades, afirmam que até a presente data não apareceu uma vítima sequer das ditas delações de Simonal. O jornal O Pasquim, frente de luta contra a ditadura militar, através de pessoas como Henfil e Jaguar, ocupou-se de propagar as acusações que destruíram a carreira de Simonal.

Ostracismo e morte


Simonal caiu em absoluto esquecimento a partir da década de 1980. Segundo sua segunda mulher, Sandra Cerqueira, "Ele dizia para mim: 'Eu não existo na história da música brasileira' ".
Tornou-se deprimido e alcoólatra, vindo a morrer de cirrose hepática decorrente do alcoolismo.

Reabilitação


Em 2002, a pedido da família, a Comissão Nacional de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) abriu um processo para apurar a veracidade das suspeitas de colaboração do cantor com os órgãos de informação do regime militar. A comissão analisou documentos da época, manteve contato com pessoas do meio artístico, como o comediante Chico Anysio e os cantores Ronnie Von e Jair Rodrigues, e analisou reportagens publicadas nos jornais. Em notícia veiculada em 1992 pelo Jornal da Tarde, por exemplo, Gilberto Gil e Caetano Veloso, oficialmente perseguidos pelo regime militar, declararam não ter tido problemas de convivência com Simonal, sendo que Veloso ainda elogiou as qualidades de Simonal como artista.
Além de depoimentos de artistas e de material enviado por familiares e amigos, constou do processo um documento de janeiro de 1999, assinado pelo então secretário nacional de Direitos HumanosJosé Gregori, no qual atestava que, após pesquisa realizada nos arquivos de órgãos federais, como o SNI e oCentro de Informações do Exército (CIEx), não foram encontrados registros de que Simonal tivesse sido colaborador, servidor ou prestador de serviços daquelas organizações.
Em 2003, concluído o processo, Wilson Simonal foi moralmente reabilitado pela Comissão Nacional de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), em julgamento simbólico.[10][11]
Em 2009, foi lançada a biografia Nem Vem que Não Tem - A Vida e o Veneno de Wilson Simonal. Nela, segundo Marcus Preto, repórter do jornal Folha de São Paulo, seu autor, o jornalista Ricardo Alexandre, apresenta fatos que tentam levar o leitor a acreditar na inocência alegada por Simonal.[5] A narrativa desenvolvida no livro sustenta que, para se inocentarem, os agentes do Dops que torturaram o contador teriam improvisado uma farsa: Viviani seria um possível terrorista denunciado por Simonal. Para dar um ar de credibilidade à história, o cantor assinou documento em que se assumia acostumado a "cooperar com informações que levaram esta seção [o Dops] a desbaratar por diversas vezes movimentos subversivos no meio artístico".[5]
Em 2011 foi lançado o livro "Simonal: quem não tem swing morre com a boca cheia de formiga", do historiador Gustavo Alonso, pela Editora Record. Nele o autor mostra um painel complexo dos anos 60/70, deixando claro que Simonal não foi o único que flertou com o regime, e problematiza a recente reabilitação do cantor. Alonso aponta uma instigante questão: sendo Simonal vítima ou algoz, a sociedade continua se vendo como resistente ao regime ditatorial, algo que o historiador busca questionar. Ele mostra como vários artistas da MPB flertaram com a ditadura, dentre eles Elis Regina, Jair Rodrigues, Tom Jobim, João Nogueira, o grupo Os Originais do Samba, artistas como Tonico e Tinoco, os tropicalistas, Jorge Ben, e até Chico Buarque, dentre vários outros. O autor nega que o racismo tenha sido preponderante para o ostracismo de Simonal, que, junto da grande maioria da população, era um defensor da idéia vulgata da "democracia racial". A concepção de que Simonal teria sofrido "racismo" por parte da sociedade contribui, segundo Alonso, para a vitimização do cantor, que finalmente também pôde entrar no panteão das "vítimas" do regime, ou seja, ao lado da sociedade também "vitimizada", que sente dificuldade de se reconhecer no papel de algoz. Para o historiador, a forma vitimizada de se recordar Simonal nos dias de hoje não problematiza o apoio da sociedade ao regime e se cala sobre o principal motivo da exclusão do cantor: o flerte incessante com a cultura de massa através da Pilantragem e a concorrência com o Tropicalismo na modernização antropofágica da música brasileira. Antes do Tropicalismo, Simonal já misturava as guitarras na música brasileira, também flertava com a cultura de massa e incorporava o mundo pop e ironizava as esquerdas folclóricas e a música de protesto. Alonso mostra até que, nos anos 60, Tropicalismo e Pilantragem eram até confundidos, tamanha a semelhança entre os projetos que, por fim, tiveram trajetórias distintas, sobretudo após o exílio dos baianos. Enquanto um projeto conseguiu colocar um tropicalista no ministério da Cultura, Gilberto Gil no mandato Lula (2002-2010), a Pilantragem ficou apagada. Talvez porque, segundo Alonso, a Pilantragem era a versão da "malandragem" nos anos 60/70, ambigua e paradoxal, e que apesar de muito popular não conseguiu a incorporação pela intelectualidade, fosse de esquerda ou direita. ´Diante dos vários questionamentos que coloca, o livro "Simonal: quem não tem swing morre com a boca cheia de formiga", foi considerado por Arthur Xexéo, em coluna de 03 de agosto de 2011 no jornal O Globo, como "inflamável". Segundo Xexéo, o livro de Gustavo Alonso é capaz de causar "uma explosão e tanto nas entranhas da MPB".

Documentário

Em 2009, foi lançado o documentário Simonal - Ninguém Sabe o Duro que Dei, dirigido por Claudio Manoel (da troupe Casseta & Planeta), Micael Langer e Calvito Leal, que traça um retrato simpático ao cantor, apesar de ter veiculado um longo depoimento de Raphael Viviani. Segundo Manuel, Simonal "pagou uma pena dura demais, desproporcional ao que ele fez, porque sua condenação foi até o fim da vida. Para ele, não teve anistia".

Discografia


  • 1961 - Teresinha / Biquinis e borboletas (Carlos Imperial / Fernando César) (compacto 78rpm)
  • 1963 - Tem algo mais
  • 1964 - A nova dimensão do samba
  • 1965 - Wilson Simonal
  • 1966 - Vou deixar cair...
  • 1967 - Wilson Simonal ao vivo
  • 1967 - Alegria, alegria !!!
  • 1968 - Alegria, alegria - volume 2
  • 1968 - Quem não tem swing morre com a boca cheia de formiga
  • 1969 - Alegria, alegria - volume 3
  • 1969 - Cada um tem o disco que merece
  • 1969 - Homenagem à graça, à beleza, ao charme e ao veneno da mulher brasileira
  • 1970 - Jóia
  • 1970 - México 70
  • 1972 - Se dependesse de mim
  • 1973 - Olhaí, balândro..é bufo no birrolho grinza!
  • 1974 - Dimensão 75
  • 1975 - Ninguém proíbe o amor
  • 1977 - A vida é só cantar
  • 1979 - Se todo mundo cantasse seria bem mais fácil viver
  • 1981 - Wilson Simonal
  • 1985 - Alegria tropical
  • 1991 - Os sambas da minha terra
  • 1995 - Brasil
  • 1998 - Bem Brasil - Estilo Simonal

Póstumos e coletâneas

  • 1997 - Meus momentos: Wilson Simonal
  • 2002 - De A a Z : Wilson Simonal
  • 2003 - Alegria, alegria
  • 2003 - Se todo mundo cantasse seria bem mais fácil viver (relançamento)
  • 2004 - Rewind - Simonal Remix
  • 2004 - Wilson Simonal na Odeon (1961-1971)
  • 2004 - Série Retratos: Wilson Simonal
  • 2009 - Wilson Simonal - Um Sorriso Pra Você

Trilha sonora

  • 2009 - Simonal - Ninguém Sabe o Duro Que Dei


Fonte: Wikipédia

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