No encontro, que ocorreu após um raro pronunciamento político do pontífice em missa, Fidel fez três perguntas ao papa.
O papa Bento 16 reuniu-se nesta quarta-feira com o líder revolucionário de Cuba Fidel Castro. O encontro ocorreu após um raro discurso político do pontífice durante uma missa perante milhares na icônica Praça da Revolução em Havana, capital do país, e pouco antes de ele embarcar em um avião em direção a Roma.
Durante os 30 minutos do encontro entre o papa e Fidel na Embaixada do Vaticano em Havana, o ex-presidente cubano – que quando criança foi educado por padres jesuítas – basicamente fez três perguntas a Bento 16 sobre as mudanças nos ensinamentos da igreja desde que era criança, como é ser um papa e quais desafios a humanidade enfrenta hoje.
Foto: AP
Foto divulgada pelo Osservatore Romano, jornal do Vaticano, mostra papa Bento 16 com o líder cubano Fidel Castro em Havana
Segundo o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, o papa, por sua vez, levantou questões sobre liberdade. Fidel apresentou sua esposa Dalia Soto del Valle e seus filhos, e pediu ao pontífice para enviar alguns livros para que elaborasse os tópicos disctudidos.
O encontro começou com algumas piadas sobre a idade avançada dos protagonistas. Fidel tem 85 anos, idade que Bento 16 alcança no próximo mês. “Sim, eu estou velho, mas ainda consigo fazer meu trabalho”, disse o papa segundo seu porta-voz, que descreveu o encontro como sereno, intenso, animado e cordial.
Segundo a agência France Presse, antes de deixar a ilha, Bento 16 teria pedido ao governo cubano que ninguém sofra "limitação de suas liberdades fundamentais".
Mais cedo, na enorme praça onde multidões costumavam se aglomerar durante várias horas para ouvir os inflamados discursos de Fidel, afastado do poder desde 2006, o pontífice pediu mais liberdade para a Igreja Católica em Cuba e denunciou o fanatismo que tenta impor sua verdade sobre os outros.
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Segundo Bento 16, que criticou o marxismo na sexta-feira, as pessoas encontram a liberdade quando buscam a verdade que o cristianismo oferece. "Por outro lado, há aqueles que erroneamente interpretam essa busca pela verdade, levando-os para a irracionalidade e o fanatismo; eles se fecham em 'sua verdade' e tentam impô-la aos outros", disse no altar sob a sombra da imagem de Ernesto Che Guevara.
"Reconhecemos com alegria que, em Cuba, estão sendo dados passos para que a Igreja realize sua missão ineludível de expressar pública e abertamente sua fé", afirmou o papa na homilia cubanos congregados na praça, que tem capacidade para 600 mil pessoas. "Para poder exercer essa tarefa, a Igreja há de contar com a essencial liberdade religiosa", disse na presença do presidente Raúl Castro e do chanceler Bruno Rodríguez.
O papa disse que a Igreja busca dar seu testemunho não apenas nas catequeses, como também no âmbito escolar e universitário. As escolas católicas e todos os colégios particulares foram estatizados depois da chegada de Fidel Castro ao poder, em 1959.
Além de agradecer a Deus, "que nos reúne nesta emblemática praça", o pontífice disse que "a verdade é um anseio do ser humano, e buscá-la sempre supõe um exercício de autêntica liberdade".
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No início da missa, o cardeal Jaime Ortega, arcebispo de Havana, fez um apelo à "paz e reconciliação" entre os cubanos. No ofício estavam presentes centenas de peregrinos cubanos procedentes de Miami, reduto do anticastrismo.
Foto: AP
Fiéis foram à Praça da Revolução para participar da missa de Bento 16
Bento 16 chegou à praça no "papamóvel" branco, com as janelas abertas, cercado por vários agentes de segurança. Em 1998, nesse mesmo lugar, na presença de Fidel, João Paulo 2º, o primeiro papa a visitar a ilha, celebrou uma histórica missa em que pediu que "Cuba se abra para o mundo para que o mundo se abra para Cuba".
Logo cedo, cubanos católicos partiram da Catedral de Havana em uma procissão com a imagem da Virgem da Caridade do Cobre até a Praça da Revolução. A imagem iluminada da Virgem, conhecida como "Mambisa", foi saudada com aplausos pelas ruas de Havana.
As procissões religiosas estavam proibidas em Cuba desde os anos 60 pelo então governo ateu de Fidel até que foram restituídas pelo líder da revolução durante a visita de João Paulo 2º. O Estado cubano deixou o ateísmo em 1991 e passou a ser simplesmente laico.
*Com AP e AFP
Fonte: Último Segundo
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