terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

História de náufrago salvadorenho ainda tem detalhes 'contraditórios'

A história parece inacreditável: um pescador que saiu do México em dezembro de 2012 apareceu vivo 13 meses depois, em uma ilha na região da Micronésia, no Pacífico, após percorrer mais de 10 mil quilômetros.


A princípio foi divulgado que o pescador resgatado no atol de Ebon, nas Ilhas Marshall, era mexicano. Depois, a Chancelaria mexicana confirmou que o homem de 37 anos, chamado José Salvador Alverenga, era salvadorenho.
O embaixador mexicano nas Filipinas e nas Ilhas Marshall, Julio Camarena, explicou à BBC Mundo como constatou que Alverenga era originário de El Salvador.

"Tive uma longa conversa telefônica com ele e percebi que ele de fato ele vinha do México, mas não era mexicano. No México, as pessoas falam "Bueno?", quando atendemos ao telefone. Ele me disse "alô!"

"Perguntei a ele de onde ele havia zarpado e ele me disse que de Tonalá, Chiapas (Estado no sudeste do México)."

"Depois continuei lhe fazendo perguntas. Perguntei de qual porto havia saído. 'De Costa Azul', me disse, e lhe perguntei qual era a cidade mais próxima; 'Tapachula', ele respondeu. Todas as informações que ele me deu estavam certas", acrescentou Camarena.

"Costa Azul é uma vila de pescadores muito próxima da fronteira com a Guatemala cujos habitantes costumam pescar tubarão-martelo e peixe-vela. Ele também disse que trabalhava para uma empresa de pesca de camarões", disse. "Tudo fazia sentido."

O governo do México, a pedido da Chancelaria salvadorenha, está ajudando no processo de repatriação de Alverenga a El Salvador, que incluirá um check-up, a emissão de documentos e a entrega de um visto para que ele possa voltar a seu país.

O diplomata mexicano confirmou à BBC Mundo que um funcionário da embaixada mexicana nas Filipinas viajou para Majuro, capital das Ilhas Marshall, para se encontrar com Alverenga.

A BBC Mundo tentou entrar em contato com o salvadorenho, sem sucesso. A reportagem foi informada que ele recebeu alta do hospital em Majuro e está em um hotel da capital.

Veracidade

Esta não foi a primeira vez que um náufrago vai parar nessa região do Pacífico. Em 2006, três pescadores que disseram ser mexicanos foram resgatados por um barco pesqueiro de Taiwan perto das Ilhas Marshall depois de, segundo foi afirmado na época, passarem nove meses à deriva.

Também esta não é a primeira vez que desaparecem pescadores que partiram de Chiapas.

José Rivera, repórter da Agência de Serviços Informativos de Chiapas (Asich), disse à BBC Mundo que há um ano reportou o desaparecimento de quatro pescadores que saíram da região em uma embarcação "de uns sete ou oito metros", semelhante à que disse ter usado Alverenga.

"A notícia do resgate do homem no atol causou muita expectativa por aqui", disse o repórter. "A comunidade de Tonalá está esperando que seja um dos pescadores desaparecidos. Todos esperam um milagre."

Os detalhes, porém, não batem. Um dos pontos divergentes é o fato de nenhum dos quatro desaparecidos era salvadorenho. "Agora, estamos tentando confirmar a veracidade da história", diz Rivera.

Detalhes incompletos

O embaixador mexicano nas Ilhas Marshall diz que não há como confirmar qual foi a travessia do náufrago, nem sua duração, mas os dados mencionados por Alverenga em sua "longa entrevista" com o representante diplomático foram "confirmados e estão corretos".

"Confirmamos com as autoridades da Nova Zelândia que há correntes (marítimas) que saem do México e levam à região da Indonésia", afirmou Camarena.

Alverenga alega ter sobrevivido mais de um ano como náufrago bebendo sangue de tartaruga e caçando aves e peixes com as mãos.

As fotos, porém, mostram um homem aparentemente sem sinais de desnutrição.

Segundo o correspondente do jornal britânico The Telegraph Jonathan Pearlman, que entrevistou Alverenga em Majuro, "apesar de sua difícil experiência ele parecia bem alimentado e de bom humor, exceto ao descrever a perda do companheiro com quem viajava - um jovem de 15 anos chamado Ezekiel que morreu após quatro meses de viagem por ter se recusado a se alimentar".

Mas Pearlman acrescenta que "há muitos detalhes incompletos e (Alverenga) às vezes parece se contradizer".

Questionado se tinha dúvidas quanto ao depoimento de Alverenga, o embaixador Camarena disse que o náufrago "soava exausto, falava com dificuldade" e havia acabado de ser medicado.

"Ele foi fotografado pela imprensa quando já tinha tomado banho e usava roupas largas, mas me informaram que ele foi encontrado em uma situação muito precária, desidratado e mentalmente afetado", agrega. "Não podemos saber se ele passou 14 ou 3 meses no mar. Mas o que sabemos é que passou por uma situação difícil."

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