Com apoio de helicópteros de ataque, forças do governo da Síria combateram rebeldes em fortes confrontos em Damasco, em uma clara escalada nos confrontos mais sérios na capital desde o início do levante antigoverno, em março de 2011, disseram ativistas.
Os duros choques, que são travados nos últimos três dias em ao menos quatro bairros da cidade, são o sinais mais recente de que o conflito sírio está rapidamente se tornando uma guerra civil que agora se aproxima do centro de poder do regime de Bashar al-Assad. As forças do governo já recorreram a tanques e veículos blindados nos confrontos na capital, mas o uso de força aérea reflete a intensidade e a seriedade dos choques.
Em Damasco, o ativista Maath al-Shami, do Observatório Sírio para os Direitos Humanos (com base no Reino Unido), disse que os combates desta terça-feira se concentram em Kfar Souseh, Nahr Aisha, Midan e Qadam. "Posso ouvir estouros e disparos e algumas explosões vindos da direção de Midan", disse al-Shami à Associated Press via Skype. "Fumaça negra está subindo da área."
A agência de notícias da Síria disse que os soldados ainda caçam "elementos terroristas" que fugiram de Nahr Aisha para Midan, referindo-se ao oponentes do regime. Um vídeo amador mostrou dois blindados com metralhadoras pesadas juntamente com soldados que supostamente avançavam em uma estrada vazia em direção a Midan nesta terça-feira.
Os ativistas apelidaram os confrontos na capital de "Vulcão de Damasco", no que parece ser uma tentativa de levar os combates ao centro de poder da Síria.
Os confrontos são os mais contínuos e espalhados na capital desde março de 2011 e desde o início da repressão que, segundo ativistas, deixou mais de 17 mil mortos. No passado, os choques aconteciam a noite na capital. Agora, os choques acontecem durante o dia.
Damasco — e a maior cidade da Síria, Aleppo —, abrigam as elites que se beneficiaram dos laços próximos com o regime de Assad, assim como classes mercantis e grupos minoritários que temem perder seu status se o presidente sírio cair.
Enquanto a violência sai do controle, os esforços diplomáticos para pôr fim ao banho de sangue fracassaram, com as potências ainda profundamente divididas sobre quem é responsável e como parar os confrontos. Os EUA e muitas nações ocidentais pediram para Assad deixar o poder, enquanto a Rússia, China e Irã se posicionaram a favor do regime.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, dirigiu-se à China na terça-feira como parte de um esforço diplomático para fazer com que a Rússia e a China apoiem uma resposta mais dura para os ataques do regime de Assad. Enquanto Ban está na China, o enviado especial da ONU e da Liga Árabe, Kofi Annan, deve se reunir com o presidente russo, Vladimir Putin, em Moscou para discutir o conflito.
As viagens são feitas antes de uma votação no Conselho de Segurança da ONU nesta terça-feira. Uma resolução apoiada pelo Ocidente pede por sanções e invoca o Capítulo 7 da Carta da ONU, que autoriza ações que incluem em último caso o uso da força - que autoridades americanas e europeias agora estão considerando como possibilidade.
Armas químicas
A violência continua um dia depois de Nawaf Fares, embaixador no Iraque que desertou do regime, ter afirmado que Assad não duvidaria em recorrer a armas químicas se enfrentar mais dificuldades e não ter descartado a possibilidade de elas já terem sido utilizadas em Homs.
Em entrevista à cadeia BBC, Fares disse que há informações não confirmadas sobre o uso dessas armas e também afirmou que os principais ataques na Síria teriam sido planejados pelo regime de Damasco em colaboração com a rede terrorista Al-Qaeda.
Fares é considerado o político mais importante a abandonar o regime de Damasco desde o começo do conflito. Questionado se Assad poderia utilizar armas químicas contra a oposição, o político e diplomata não descartou essa hipótese e qualificou o presidente sírio como "um lobo ferido e encurralado".
"Há informações, informações não confirmadas, é claro, que foram utilizadas parcialmente armas químicas na cidade de Homs", disse. Em referência à possibilidade de uma colaboração com a Al-Qaeda, Fares assinalou que "na história há evidências suficientes de que muitos inimigos se encontram quando têm interesses".
"A Al Qaeda está buscando um espaço para movimentar-se e meios de apoio, enquanto o regime (sírio) procura uma maneira de aterrorizar a população síria", explicou. Segundo a BBC, Fares acredita que militantes muçulmanos sunitas da Al-Qaeda colaboram com o regime controlado pela minoria alauíta.
Fares acrescentou que Assad não deixará o poder por uma intervenção política, apenas se for "tirado à força".
*Com AP e EFE
Fonte: Último Segundo
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