
A questão é polêmica, mas até que ponto vale a pena recorrer a um produto tão perigoso?

Foto: Thinkstock
Os registros da utilização de álcool como produto de limpeza vêm desde a Idade Média. No Brasil, é usado há mais de 200 anos sobretudo em hospitais e serviços de saúde devido às suas propriedades antissépticas e potencialidades microbicidas e germicidas. Seu uso é tão popular que o Brasil é considerado um dos maiores consumidores de álcool para uso doméstico no mundo e um dos poucos onde a comercialização é permitida sem fiscalização ou controle.
Os tipos de álcool mais utilizados para limpeza são o etílico e o isopropílico. Ambos são antissépticos e desinfetantes, mas o álcool isopropílico é mais eficiente contra bactérias, enquanto o etílico é mais potente contra vírus. O álcool etílico possui água em sua composição e é comercializado facilmente nos supermercados a preços baixos, já o isopropílico é mais caro e tem sua comercialização restrita à farmácias de manipulação e lojas de hardwares, pois sua fórmula anidra, isto é, com pouquíssima água, é mais eficiente na limpeza de hardwares, pois evita a corrosão e a oxidação dos metais presentes nesses equipamentos.
O alerta para o uso do álcool consiste no fato de se tratar de um produto altamente inflamável que, quando inserido no uso doméstico para limpar a casa ou acender churrasqueiras, expõe adultos e principalmente crianças a queimaduras gravíssimas e riscos que podem ser fatais.
Os dados referentes a queimaduras em adultos e crianças são altíssimos, mas não são exatos. De acordo com o Ministério da Saúde, no ano de 2011 mais de 7.200 pessoas foram internadas em consequência de queimaduras causadas por produtos inflamáveis como álcool, gasolina, diesel, querosene, entre outros, e o uso indevido e o armazenamento inadequado dessas substâncias nas residências colaboram para o aumento desses dados.
Embora ainda não exista um cadastro nacional de registro de casos de queimaduras por álcool, a partir de dados do departamento de informática do Sistema Único de Saúde do Brasil, o Datasus, estima-se que o número de vítimas de queimaduras por álcool gire em torno de dois mil por ano.
Para a Frente Nacional de Combate aos Acidentes com Álcool, formada por várias entidades da sociedade civil, a gravidade das consequências de uma queimadura na vida de uma pessoa e o elevado gasto do sistema de saúde com a recuperação desses pacientes seriam suficientes para justificar a suspensão da venda do álcool.
Em 2002, o álcool líquido teve sua venda proibida por uma resolução da Anvisa. Neste período, de acordo com pesquisas realizadas pela SBQ – Sociedade Brasileira de Queimaduras, a substituição do álcool líquido pela versão em gel reduziu o número de acidentes domésticos com álcool, entre 60 e 65%, mas esta resolução foi derrubada posteriormente pela Abraspea, a Associação Brasileira dos Produtores e Envasadores de Álcool sob a alegação de que e a proibição da venda do álcool para o consumidor doméstico faria com que o comércio ilegal aumentasse e, com isso, o número de acidentes também subiria. Depois disso, o álcool líquido voltou às prateleiras.
Desde então, a Frente Nacional de Combate aos acidentes com Álcool luta pela proibição da venda de álcool e um dos principais motivos é que existem outras alternativas para limpeza residencial e até hospitalar com desempenho tão ou mais eficaz que o álcool e de longe menos arriscadas. O próprio detergente ou limpador geral possui ação bactericida e é capaz de limpar e preservar móveis, equipamentos e utensílios sem ser inflamável.
Afim de avaliar a segurança proporcionada ao consumidor, em 2007 a Proteste, Associação Brasileira de Defesa do Consumidor, submeteu a testes diversas marcas de álcool disponíveis no mercado brasileiro na versão líquida e também em gel. Esses testes constataram que o produto pode se incendiar facilmente e que uma chama de 26 graus de temperatura é suficiente para levar o álcool à combustão causando queimaduras e até incêndios.
Além disso, ficou comprovado que álcoois com graduação de 46 a 65 graus exterminaram entre 98 e 99,6% dos microrganismos, o mesmo que outros produtos de limpeza bactericidas. Também ficou constatado que a falta de travas de segurança pode facilitar a ingestão por crianças e a boca larga das versões líquidas, dificulta o controle de dosagem na hora do uso espalhando o produto descontroladamente, o que não acontece na versão gel.
Já tramita no Congresso Nacional um projeto que restringe a comercialização de álcool como forma de combater os inúmeros acidentes causados. Além disso, existem campanhas para que o consumidor deixe de fazer o uso dos produtos tanto na limpeza doméstica como no acendimento de churrasqueiras e opte por produtos não inflamáveis. Enquanto nada disso acontece, o álcool continua disponível para quem quiser comprar e a decisão final fica por conta dos consumidores.
Se você não se convenceu dos riscos e prefere continuar a usar essa substância na limpeza, confira algumas dicas para proteger você e a sua família:
Fonte: Dicas de Mulher
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