quinta-feira, 11 de abril de 2013

A escola onde os alunos fazem as regras


Rayssa, Weverton e Isabell não entenderam nada no primeiro dia de aula. Como assim, escolher as normas da escola? “Nós criamos as regras! Fizemos os acordos. Aqui a escola nasceu junto com a gente. Mas não é escola bagunça, onde se pode fazer o que quiser”, contou Rayssa Furtado, 15 anos. “Todos ficamos surpresos, ninguém imaginava que isso fosse possível”, concordou Weverton, 15.

O Colégio Chico Anysio, no Andaraí (zona norte do Rio de Janeiro), é “experimental”. É um de nove da rede estadual fluminense no programa Dupla Escola, ou seja, em tempo integral, de 7h às 17h. A instituição também faz parte do programa Ensino Médio Inovador , do governo federal. Mas a principal diferença é que a unidade é um piloto de uma parceria do governo com o Instituto Ayrton Senna e a faculdade Ibmec.
Raphael Gomide
Weverton, Rayssa, Ana Luiza, Isabell e Elias são alunos do Colégio Chico Anysio, inaugurado este ano, e elogiam proposta
O projeto pedagógico para o ensino médio foi desenhado pelo Instituto Ayrton Senna e aplicado em parceria com o governo do Rio. O Ibmec dá aulas de introdução à economia, contabilidade, educação financeira, entre outras, que os adolescentes brasileiros normalmente só veem na faculdade. Eles também têm aulas de inglês e espanhol. “Quem está na Chico Anysio não precisa de curso”, disse Elias Fernandes, 15.
O projeto é baseado no aprender a “fazer”, a “conhecer” e a “conviver”. O objetivo é desenvolver nos alunos características que serão usadas por toda a vida, em qualquer atividade que escolham. São estimuladas a autonomia, o pensamento crítico, a curiosidade investigativa, a capacidade de colaboração e de comunicação, a criatividade e a liderança. Os adolescentes ficam dispostos em grupos de “times”, de seis mesas, e debatem os assuntos, fazendo trabalhos de grupo, na maioria. “O engraçado é que todo mundo tem opinião sobre tudo”, disse Isabell Pacheco, 14 anos.
Para estimular a criatividade e a capacidade de resolver problemas, os professores incentivam atividades como improvisos de teatro e jogos em grupo. Um exemplo foi um exercício em que eles simulavam ter de atravessar um rio, contando para isso apenas com um papelão. “O professor é o mediador do conhecimento, e o aluno é o protagonista juvenil”, explica o jovem Fábio Milioni, de apenas 27 anos, a quem os alunos chamam apenas de Fábio. Ele dirige apenas três turmas de 1º ano do ensino médio, com 80 alunos no total.
Raphael Gomide
Diretor da escola, Fábio Milioni, tem 27 anos e defende a inovação
“Aqui é diferente, as aulas são mais legais”, disse Ana Carolina Mota, 15 anos. Elias Fernandes, 15, sempre foi um dos mais calados das escolas por onde passou. Mas na Chico Anysio ele conta que o método acaba forçando que ele fale mais e supere sua timidez. “Faz com que a gente seja mais sociável”, disse o menino.
No colégio, os meninos têm tempos para dedicar ao “estudo articulado” (quando podem fazer seus trabalhos); à autogestão (escolhem o que querem fazer, de exercícios, a tirar dúvidas com um professor ou até relaxar e ouvir música); e ao “projeto de vida”, quando um orientador os ajuda a escolher o caminho que pode seguir no futuro. “A proposta é inovadora”, afirma o empolgado diretor, que coordena uma equipe de 14 professores.
Inês Kisil Miskalo, coordenadora da área de Educação Formal do Instituto Ayrton Senna, explica que todas essas atividades desenvolvem conhecimento de forma integrada e não há uma divisão estanque de disciplinas. Os alunos são estimulados a fazer projetos, que utilizam conteúdos de várias áreas e muitas vezes exigem o envolvimento de mais de um professor.
Raphael Gomide
Luta olímpica é uma das modalidades esportivas praticadas no Colégio Chico Anysio
Os docentes aproveitam a tecnologia disponível por doações de empresas. A maioria das aulas é com datashow, e é enviada em seguida para os alunos, por e-mail. Há uma lousa digital doada por uma multinacional de tecnologia, assim como 40 computadores. Para a representante do Ayrton Senna, não dá para pensar no jovem sem pensar em tecnologia, mas na escola ela deve ser usada como facilitadora do processo todo. “Não tem sentido ter uma sala de computadores, é importante que os alunos possam usá-los quando precisarem, até no pátio”, diz.
A Chico Anysio é distinta até nos esportes escolhidos; esgrima e luta olímpica, pouco comuns no País, quanto mais em uma escola estadual. Isabell sempre foi atlética. Completou os estudos de balé clássico e dança e adora esportes. No primeiro momento, achou esgrima meio esquisito. Mas hoje adora.
Há ainda outras vantagens, aos olhos adolescentes. “A comida é o melhor! Tem tutu, escondidinho de carne, estrogonofe, doce de banana com mel! E os sucos! Além disso, temos o uniforme mais bonitinho, não é aquela camisa do governo feia, horrorosa”, disse Isabell.
O projeto inovador atraiu gente de vários pontos do Rio e está empolgando os alunos, ao menos nas primeiras semanas. As gêmeas Luanne e Rayanne Oliveira da Cunha, 15 anos, levam quase 1 hora 30 minutos todos os dias de Olaria até o Andaraí. “A escola é muuuito boa! O ensino é diferente, em grupo, mais fácil de aprender, e ajuda a me preparar para uma boa faculdade”, disse Luanne.
“Minha mãe diz para eu parar de falar da escola, porque eu falo demais daqui”, contou Ana Luiza Ramos, 14 anos, que, junto com a irmã, Ana Beatriz, trocou a tradicional Fundação Osório, do Sistema Colégio Militar, pelo Chico Anysio.
*Colaborou Tatiana Klix

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