quarta-feira, 16 de outubro de 2013

“Padrão Fifa”, escola de Itaquera canta arena após espera de 23 anos

Em 1990, o Corinthians ainda buscava o seu primeiro título do Campeonato Brasileiro, as chuteiras eram pretas, as crianças que sofriam no colégio desconheciam a palavra “bullying” e as escolas de samba de São Paulo desfilavam na avenida Tiradentes. Foi lá, naquele ano, que a Leandro de Itaquera apresentou um carnaval no qual imaginava o estádio alvinegro em seu bairro.

Muita coisa mudou desde que o Leão Guerreiro cantou “Itaquera, meu orgulho, meu amor, o estádio do Corinthians, a Cohab e o metrô”, trecho de “Itaquera, pedra dura, símbolo de um povo”. A começar pela casa do clube do Parque São Jorge, 90% concluída após seis décadas de promessas enganosas. Ficou para trás o tempo das maquetes de mentira, e a arena finalmente saiu do papel.
Será no populoso bairro da zona leste paulistana a abertura da próxima Copa do Mundo, motivo pelo qual a Leandro resolveu reviver sua antiga fantasia e ampliá-la. No Carnaval do próximo ano, a escola abrirá os desfiles de São Paulo, no Anhembi, mostrando o enredo “Ginga Brasil, Futebol É Raça – em 2014, a Copa do Mundo Começa Aqui”.
Divulgação
Juninho Branco vai cantar o samba da "escola da massa, da gente que canta com raça" (foto: Judson Sales)
























O samba a ser levado à avenida foi definido na madrugada do último domingo, em animada disputa entre quatro finalistas, e a escola fará o seu primeiro ensaio no próximo final de semana. Após uma espera tão alvinegra de 23 anos, a vermelha e branca poderá – além de brincar sobre a alma e o improviso do brasileiro, partes importantes da história que pretende contar – cantar de outra maneira o estádio que finalmente nasce em sua vizinhança.
“A gente vai cantar o sonho realizado, a comemoração de tudo o que aconteceu. Itaquera vai ser a capital do mundo, os olhos do mundo vão se voltar para Itaquera. É legal partir de 1990, quando a gente queria isso tudo, e hoje ter essa realidade. Cantar essa realidade é muito prazeroso para a gente que é daqui, que vive este bairro”, afirmou o intérprete Juninho Branco.
Sergio Barzaghi/Gazeta Press
O estádio, segundo a porta-bandeira Karin Darling Martins, é um sonho dos itaquerenses
“Estávamos conversando sobre isso em uma reunião nossa. Muitas coisas que eram sonhos nossos na época daquele desfile se tornaram realidade. O estádio do Corinthians, que já foi motivo de chacota, é uma realidade, é um p... de um estádio. Temos o shopping aí e outros atrativos, coisas que os outros bairros tinham, e a gente era carente. Mudou muito”, acrescentou.
Como mostram as frases do cantor e a empolgação de Seu Leandro, o presidente da agremiação, ao dizer que “anteviu tudo o que aconteceu”, o enredo vai muito além da arena alvinegra. Aliás, se você insinuar ao carnavalesco Marco Aurélio Ruffinn que a história a ser contada pelo Leão em 2014 se resume a tijolos e concreto, ele certamente ficará irritado.
“A Mais Simpática”, como se define a escola, vai falar sobre a ginga do brasileiro, sobre “o molejo único e criativo” da nossa gente, sobre a facilidade encontrada para improvisar uma trave com chinelos ou um samba com uma caixa de fósforos. “Iiiiisso, iiiisso, é exatamente isso. Futebol e Carnaval são a receita. Vamos falar de brasilidade”, explicou o artista.
Gazeta Press
"Eu posso, né?", pergunta Vivi Brilho, sabendo muito bem a resposta
Ruffin achou “show de bola” o samba escolhido no último final de semana, composição de André Ricardo, Beto Varandas, Didi Poeta, Rodolfo Minuetto, Vitor Gabriel e Medonha da Leste. A canção ganhou a preferência do corpo de jurados em uma festa na qual o vermelho e o branco da Leandro de Itaquera se misturaram ao verde e ao amarelo do Brasil.
A sapeca rainha de bateria Vivi Brilho apostou em uma versão minimalista do uniforme da Seleção, com seu nome cintilante às costas: “Eu posso, né?”. Já os mais velhos preferiram a sobriedade de seus ternos, a fidelidade às cores da escola e a cerveja gelada. “Troca! Está quente, a outra estava gelada. Assim vou ficar gripado”, sorriu um experiente sambista, no limite entre a brincadeira e a falta de paciência.
É nessa mistura de estilos e humores que a Leandro de Itaquera vai preparando o seu carnaval. Um carnaval que será possível graças a uma difícil negociação para o uso do nome “Copa do Mundo”. “Tivemos que buscar a chancela da Fifa. Não foi fácil, mas conseguimos. Estou muito feliz com esse enredo. Vai ser um grandioso carnaval”, prometeu Seu Leandro.
“Ninguém pode falar de Copa do Mundo, só a Leandro de Itaquera. A gente foi a última escola a anunciar enredo porque demorou, foi difícil a negociação, precisávamos de uma autorização. Inclusive, estão mandando da Suíça um... sei lá o nome, acho que é um brasão, mas está vindo lá uma homenagem. A gente é a única escola de samba do mundo oficial da Fifa. É padrão Fifa!”, vibrou o intérprete Juninho Branco.

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