terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Polícia entra em choque com opositores no Cairo; jornais protestam contra Carta

A polícia do Egito lançou gás lacrimogêneo durante confrontos com 100 mil manifestantes que se reuniram perto do palácio presidencial de Itihadiya na capital egípcia, Cairo, de acordo com a TV local. O presidente Mohammed Morsi ficou no palácio enquanto os manifestantes se reuniam do lado de fora, mas deixou o local pela porta dos fundos quando o número de opositores aumentou, de acordo com um funcionário que falou sob condição de anonimato.




Reuters
Manifestante anti-Morsi corre ao jogar lata de gás lacrimogêneo previamente lançada por polícia durante protestos em frente de palácio presidencial no Cairo



Os manifestantes se reuniram para protestar contra o decreto emitido no dia 22 por Morsi ampliando seus próprios poderes, colocando suas decisões e as da Assembleia Constituinte imunes a qualquer contestação judicial. O líder egípcio justificou sua decisão afirmando que o decreto tinha o objetivo de evitar que um Judiciário ainda dominado por membros indicados por Hosni Mubarak , deposto em fevereiro de 2011, tirasse dos trilhos uma transição política conturbada.

Além disso, também se opõem à aprovação às pressas do projeto da nova Constituição , que deve ser votado em referendo no dia 15 .

Para os opositores do primeiro presidente islamita do país, Morsi vem sendo "ditatorial". Entre os manifestantes estão jovens do movimento 6 de Abril, que ajudou a iniciar a revolta contra Mubarak, e o Partido da Constituição do Nobel da Paz Mohamed ElBaradei.

Por causa do protesto contra o decreto e o projeto constitucional, a segurança foi reforçada em torno do palácio presidencial com o envio de tropas de choque.

O chefe de Estado prometeu que seu decreto é temporário e tem como objetivo acelerar as reformas democráticas. Já a oposição acredita que o presidente passou a ter poderes "ditatoriais" e exige o cancelamento de seu decreto e do referendo.

O esboço da nova Casta, aprovado às pressas por uma comissão dominada por islamitas, é acusado de não proteger alguns direitos fundamentais, incluindo a liberdade de expressão, e de abrir a porta para uma aplicação mais rigorosa da lei islâmica ( sharia ). Nesta terça-feira, o opositor e ex-chefe da Liga Árabe Amr Moussa, que se retirou da Assembleia Constituinte, disse que o texto não contém as liberdades que devem ser garantidas no século 21.

Para protestar "contra a tirania" e contra os artigos restritivos sobre a imprensa e as liberdades no projeto de Constituição, vários jornais independentes e da oposição não publicaram suas edições nesta terça. Os canais privados devem participar do protesto na quarta.


AFP
Egípcia reza em frente de forças de segurança enquanto colocam arame farpado ao redor do palácio presidencial de Itihadiya, no bairro de Heliópolis, Cairo
O Judiciário, proibido pelo presidente de contestar as suas decisões, está tão dividido quando o país. O Conselho Superior da Justiça decidiu na segunda delegar aos juízes a função de supervisionar o referendo, apesar do boicote de vários juízes, abrindo caminho para a realização da votação. As eleições devem de fato ser colocadas sob vigilância judicial no Egito.

O Clube de Juízes, um sindicato profissional que representa os juízes de todo o país, anunciou no domingo que boicotaria o referendo convocado por Morsi. E o Supremo Tribunal Constitucional se uniu ao Supremo Tribunal Federal e a outros tribunais do país na greve por tempo indeterminado para protestar contra a "pressão" dos islamitas.

De acordo com especialistas, a decisão do Conselho Superior de Justiça não é vinculativa, mas significa que os juízes estão dispostos a supervisionar o referendo.

Os islâmicos, que já tiraram o Exército da condução política, sentem que chegou o seu momento de moldar o futuro do Egito, um antigo aliado dos EUA, cujo tratado de paz com Israel é uma pedra angular da política de Washington no Oriente Médio.

Não há texto perfeito
O primeiro-ministro Hisham Kandil, um tecnocrata com simpatia pelos islâmicos, disse em uma entrevista à CNN: "Certamente esperamos que as coisas se acalmem depois que o referendo seja concluído."

Ele disse que a Constituição não era "de nenhuma maneira um texto perfeito" que todos tinham acordado, mas que um "consenso da maioria" favorecia o avanço com o referendo dentro de 11 dias.
Reuters
Manifestante grita palavras de ordem contra Morsi em frente de palácio presidencial no Cairo


A Irmandade Muçulmana, agora no poder por meio das urnas pela primeira vez em oito décadas de luta, quer proteger seus ganhos e parece estar pronta para superar os protestos de rua pelo que vê como uma minoria não representativa.

ElBaradei disse que Morsi deve rescindir seu decreto, abandonar os planos para o referendo e concordar com uma nova Assembleia Constituinte, mais representativa, para elaborar uma Constituição democrática.

Em um artigo de opinião publicado no Financial Times, ele acusou Mursi e a Irmandade de acreditar que "com algumas pinceladas de uma caneta, pode levar (o Egito) de volta ao coma".

*Com Reuters, BBC e AFP

0 comentários:

Postar um comentário