Trabalhadores protegidos por cerca de 250 policiais removeram na madrugada desta quarta-feira (27) partes do Muro de Berlim conhecidas como a Galeria do Lado Leste (East Side Gallery). Apesar de pedidos de manifestantes para que o local fosse preservado, a remoção foi efetuada para abrir caminho para a construção de um projeto imobiliário.
O porta-voz da polícia Alexander Toennis disse que não foram registrados incidentes no início dos trabalhos, às 5h do horário local (1h em Brasília), para remover quatro partes do muro, cada uma com cerca de 1,2 metro de largura. A remoção vai dar espaço para uma via de acesso para um complexo de arranha-céus de apartamentos de luxo que serão construído nas margens próximas ao rio Spree.
O Muro de Berlim foi derrubado em 1989 e, logo em seguida, destruído por multidões jubilosas do lado ocidental e oriental da cidade. Quase um quarto de século depois, os berlinenses saíram novamente às ruas, só que dessa vez para proteger o que resta do muro.
No início de março, quando trabalhadores de construção começaram a desmontar uma seção de 21,4 metros do que restou do muro - um monumento à paz de quase 2 km de comprimento que está coberto de grafitis e é conhecido como a Galeria do Lado Leste -, manifestantes apareceram em massa. A primeira manifestação organizada às pressas em 1º de março atraiu centenas, mas no fim de semana seguinte milhares se concentraram para proteger os pedaços de concreto maciço que seriam removidos e realocados em um parque adjacente.
Autoridades da cidade e Maik Uwe Hinkel, da construtora Living Bauhaus, responderam observando que o espaço servirá também para a construção de uma ponte para pedestres que passará sobre o rio para substituir outra que foi destruída na Segunda Guerra Mundial, de acordo com o jornal Berliner Zeitung.
As equipes de construção somente conseguiram retirar um pedaço de 1,5 metro de largura antes de serem bloqueados pelos manifestantes. Em 4 de março, Hinkel cancelou quaisquer outras remoções até um encontro posterior. "Quero preservar esse pedaço do muro", de acordo com uma citação do prefeito de Berlim, Klaus Wowereit, divulgada pela agência de notícias alemã DPA.
Entretanto, a suspensão do projeto foi apenas temporária. Hinkel decidiu remover mais quatro partes com 1,2 metro de largura do Muro, segundo Toennis. "O construtor tem direito de fazer isso e ele nos informou há alguns dias sobre seus planos. Na noite passada, nos foi dito que ele queria que essas partes do muro fossem removidas hoje de manhã."
Para os manifestantes, os investidores estavam sacrificando parte da história do país por lucro. Ao menos 136 morreram tentando escalar o muro que dividia Berlim Oriental, comunista, e Berlim Ocidental, capitalista. Durante anos, o trecho do muro se tornou uma atração turística, com pinturas coloridas que decoram os tijolos de concreto antigos.
"Eu não acredito que eles vieram aqui de madrugada", disse Kani Alavi, chefe do grupo de artistas da Galeria do Lado Leste. "Tudo o que eles veem é o dinheiro, eles não têm nenhum entendimento sobre a relevância histórica e a arte deste lugar."
No meio da manhã a lacuna de um metro já estava coberta por um tapume e protegida por dezenas de policiais. Transeuntes e alguns manifestantes olharam para a cena incrédulos. "Se você tirar essas partes do Muro, você tira a alma da cidade", disse Ivan McClostney, 32 anos, que se mudou há um ano da Irlanda. "Desse jeito, você deixa essa cidade como qualquer outra. É tão triste."
Em comunicado enviado por e-mail, Hinkel disse que a remoção de partes do muro é temporária para permitir o acesso dos caminhões ao local da construção. Ele disse que depois de quatro semanas de negociações infrutíferas com as autoridades da cidade e com os proprietários das áreas adjacentes, não poderia mais esperar.
A Galeria do Lado Leste foi recentemente restaurada por um custo de mais de 2 milhões de euros (US$ 3 milhões) para a cidade. A seção do muro fica no lado leste da fronteira construida pelo governo comunista da Alemanha após o isolamento de Berlim Oriental em 1961.
Com AP e NYT
Fonte: Último Segundo
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