Pão, salsicha, catchup, mostarda, molho barbecue, cheddar e um cafezinho de brinde. O conjunto de ingredientes, aparentemente trivial, garante ao vendedor de cachorro-quente Enéas Gonçalves Dias, de 49 anos, um faturamento anual de R$ 108 mil.
Técnico em mecânica, Enéas, como é conhecido pelos clientes, abriu mão da profissão há 23 anos para comandar um carrinho de cachorro-quente em frente à Universidade Metodista de São Paulo, em São Bernardo do Campo, ABC Paulista.
“Meu pai vendia pipoca em frente à faculdade e eu o acompanhava desde os dez anos. Na década de 1990, ele decidiu me dar um carrinho de hot-dog para eu tocar a vida sozinho. Ele disse: ‘você vai brilhar na vida’”, recorda o vendedor.
Com um público variado, entre professores, universitários, crianças e trabalhadores da região do bairro Rudge Ramos, Enéas trabalha das 9h às 22h, de segunda a sexta-feira. Dentro desse período, vende, pelo menos, 150 cachorros-quentes por dia a R$ 3 cada. Além disso, há uma receita adicional com bebidas e festas que ele prefere não detalhar.
O sucesso do carrinho, conta ele, já rendeu até um convite da própria universidade. “Fui chamado para abrir uma loja dentro da praça de alimentação, mas não aceitei porque aqui tenho acesso ao público da rua. Lá dentro, além de pagar um aluguel alto, só poderia servir os alunos”, justifica.
Com o dinheiro que poupou ao longo da carreira, Eneás está em busca de um ponto comercial para abrir sua primeira loja fixa: uma “hot-dogueria”.
O crescimento, contudo, não significa que ele vai deixar seu carrinho. “Vou continuar vendendo cachorro-quente na rua porque aqui é a minha raiz e raiz a gente não deixa”, defende ele, bastante orgulhoso.
Para não abandonar o seu público-alvo, Enéas pretende abrir uma loja de rua no próprio bairro Rudge Ramos. Assim, explica, pode atender o mesmo público que recebe em seu carrinho, só que em um espaço maior e mais planejado.
Vendedores de cachorro-quente estão espalhados pelo País, mas nem todos conseguem o mesmo resultado no fim do mês. No caso de Enéas, conta, o segredo está no tratamento dado aos clientes, como aceitar fiado, decorar as preferências dos mais assíduos e guardar o carro dos professores. O resto, diz, “é um processo comum entre todos os vendedores de hot-dog”.
Bastante conhecido em Rudge Ramos, o vendedor já foi chamado para ser vereador duas vezes – a última vez na eleição passada. “Neguei porque tinham muitos candidatos e eu quero estar mais preparado. Quem sabe na próxima eleição?”, sugere.
Black Dog
Como Enéas, Leandro Neves, de 38 anos, dono da rede de lanchonetes Black Dog, também começou com um carrinho de cachorro-quente simples na rua.
Para ter dinheiro para sair com a namorada e pagar um curso de inglês, Neves passou a vender hot-dog com um colega em frente à loja do pai, na capital paulista, aos 18 anos. “Conheci uma pessoa que conseguiu comprar carro e sustentar a família com cachorro-quente. Fiquei curioso e quis tentar também”, recorda.
Com a sociedade desfeita meses depois, o jovem decidiu vender hot-dog sozinho. Personalizou o negócio, mudou o ponto para a Avenida Paulista, onde hoje funciona a Fnac, e colocou o nome do carrinho de “Black Dog”; assim começava a história da marca.
“Mandei fazer uniforme bordado e coloquei o logo com o cachorro no carrinho. Nessa época, já ganhava dinheiro com cachorro-quente porque tinha uma clientela grande. O local virou um ponto de encontro”, conta ele.
Em 2001, no entanto, Neves teve de se desfazer do carrinho após uma apreensão da Polícia. Mas, o que era para ser um problema, foi um empurrão para o vendedor abrir sua primeira loja.
Andando pela região da Avenida Paulista, ele encontrou um ponto disponível para lanchonete. Correu para o banco, tomou um empréstimo e abriu sua primeira loja Black Dog, na Alameda Joaquim Eugênio, travessa da Avenida Paulista, em frente à loja atual da marca.
Hoje, a rede possui três lojas próprias e oito franquias, uma delas em Salvador e as restantes no Estado de São Paulo. Só no ano passado, a marca Black Dog cresceu 63% em faturamento.
Em junho, a lanchonete estreia o formato quiosque na feira da ABF (Associação Brasileira de Franchising), que acontece de 12 a15 de junho no Expo Center Norte, na Vila Guilherme, Zona Norte de São Paulo.
Reclamações de clientes
Apesar das perspectivas otimistas, o desafio do negócio está em manter as raízes do antigo carrinho de cachorro-quente, segundo Neves.
“Tenho recebido muitas reclamações de clientes sobre a industrialização do hot-dog. Tentei copiar o modelo McDonald’s e Burger King de produção, mas acho que nossa clientela prefere um produto mais artesanal”, avalia o empresário, que também teve de encerrar contratos com três franqueados pelo descumprimento dos padrões fixados em contrato.
Para resgatar a clientela, o empresário vai modificar o processo produtivo da sua loja âncora: a da Alameda Joaquim Eugênio de Lima, travessa da Avenida Paulista. Como nos carrinhos de rua, os cachorros-quentes serão produzidos na frente do cliente. “Não tivemos redução de faturamento, mas perdemos consumidores. Quero o sucesso da marca de volta.”
Fonte: Último Segundo
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