O exército desarmado da Catalunha não conseguiu derrubar os soldados de Madri na batalha que misturou futebol, política e nacionalismo neste domingo na Espanha. Após um duelo particular entre Lionel Messi e Cristiano Ronaldo, o Barcelona foi parado pelo Real, só empatou em 2 a 2 e fez soarem mais baixos os gritos pela independência do antigo principado rebelde no nordeste do território espanhol.
Cada lado foi conduzido de maneira quase brilhante por seu herói particular. O português fez o primeiro gol, o argentino marcou dois e virou. Mas Ronaldo empatou logo em seguida. E, cada um a seu jeito, eles consolidaram a impressão de que são os melhores jogadores dos dois melhores times do mundo.
Mas não houve só futebol neste domingo.
Mais do que razões puramente esportivas, o Barcelona queria a vitória para ter um desagravo simbólico e tardio contra a incursão do rei Felipe V que levou à anexação forçada da Catalunha à Espanha no século 18. Por causa dessa derrota germinal, os catalães vêm cultivando há quase 300 anos o desejo de ser um país independente.
Neste domingo, esse desejo se cristalizou no desfraldar de centenas de bandeiras catalães no Camp Nou, se verbalizou em gritos nacionalistas e escreveu um capítulo importante da história europeia. História escrita sobre um campo de futebol.
As quase 100 mil pessoas no estádio ansiavam por uma catarse coletiva. Mas ninguém esperava tanta resistência do lado de Madri.
ÀS ARMAS
O silêncio tomou conta da cidade quando Cristiano Ronaldo mostrou suas armas logo no começo do confronto.
Com um pequeno talho na parte lateral do cuidadoso penteado, uma espécie de insígnia de guerra feita especialmente para O Clássico, o português calou a empolgação catalã com um chute seco de esquerda, o seu primeiro chute no jogo, um chute perfeito que entrou no canto baixo do goleiro e causou uma baixa profundo na autoestima adversária.
“Calma, calma, menos, sou eu que estou aqui”, pareceu dizer o atacante ao se dirigir à multidão azul-grená. Ele apontava para o próprio peito. Acalentava seu enorme ego.
Mas não era só ele. O Real Madrid foi o grupamento mais ofensivo e insinuante desde o começo do encontro. Depois que Ronaldo abriu o placar, o francês Karim Benzema teve uma chance incrível par fazer o segundo. Mas, sozinho na grade área, conseguiu apenas um chute tosco que atingiu a trave de Valdés.
Quando o domínio merengue em Barcelona emulava a supremacia secular da monarquia sobre o antigo principado, apareceu o acaso. E apareceu Messi para ajudá-lo. Em uma jogada confusa na área do Real, Pepe falhou e deixou a bola cair no pé do argentino.
O herói da Catalunha não perdoou Casillas: chutou forte e empatou.
Mas o empate não era suficiente, e foi o próprio Messi quem tratou de mudar a situação. Ele fez seu talento assumir forma física, parabólica, artística e acertou uma cobrança de falta com precisão geométrica, sobre a barreira, no canto do goleiro merengue: 2 a 1.
No meio da festa azul-grená, o Real não morreu. E nem Cristiano Ronaldo. Ele recebeu um passe perfeito e invadiu a área de Valdés tão resoluto quanto o rei espanhol cavalgara sobre a Catalunha no século 18: gol, 2 a 2 e quase 100 mil respirações suspensas por mais 25 minutos.
Os dois treinadores mexeram na equipe (até Kaká entrou em campo). O Barcelona ainda conseguiu uma bola na trave nos minutos finais e teve as melhores chances de sair vitorioso. Mas a igualdade persistiu.
O empate interrompe uma sequência de seis vitórias seguidas do Barcelona no Campeonato Espanhol. Mesmo com o tropeço em casa, o time de Tito Vilanova chegou aos 19 pontos e manteve a distância de oito em relação aos rivais da capital.
No restante da rodada, o Levante venceu o Valencia por 1 a 0, o Mallorca perdeu dentro de casa para o Granada por 2 a 1 e o Athletic Bilbao bateu o Osasuna por 1 a 0.
Fonte: Esporte UOL
0 comentários:
Postar um comentário