Uma em cada oito pessoas no mundo está cronicamente desnutrida, disseram as agências alimentares da Organização das Nações Unidas (ONU) nesta terça-feira, alertando que o progresso na redução da fome desacelerou desde 2007/2008, quando uma alta nos preços gerou protestos em vários países pobres.
Em seu novo relatório sobre segurança alimentar, as agências da ONU estimaram que 868 milhões de pessoas (cerca de 12,5% da população) passaram fome entre 2010 e 2012. Isso é bem menos do que a estimativa anterior, de 1 bilhão de pessoas (18,6%) no período 1990-1992.
"Essa é uma notícia melhor do que tivemos no passado, mas ainda significa que uma pessoa a cada oito passa fome. Isso é inaceitável, especialmente quando vivemos em um mundo de abundância", disse o brasileiro José Graziano da Silva, diretor-geral da Organização de Alimentação e Agricultura da ONU (FAO).
"A maior parte do progresso na redução da fome foi feita até 2006, já que os preços alimentícios continuavam caindo. Com a alta nos preços alimentícios e a crise econômica que se seguiu, houve muito menos avanços", alertou.
Os preços dos alimentos têm tido alta nos últimos meses, em consequência da seca nos EUA, Rússia e outros grandes exportadores. A FAO prevê que os preços permaneçam próximos do que foi registrado durante a crise de 2008.
Mas Graziano disse que o mundo ainda pode alcançar a Meta de Desenvolvimento do Milênio, estabelecida em 2000, que prevê reduzir à metade a desnutrição nos países em desenvolvimento até 2015. Para isso, no entanto, serão necessários esforços para reverter a desaceleração no progresso.
Uma ampla recuperação econômica, especialmente no setor agrícola, será crucial para uma continuada redução da fome, segundo o relatório da FAO, do Programa Mundial de Alimentos e do Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola.
"O crescimento agrícola envolvendo pequenos proprietários rurais, especialmente mulheres, será mais eficaz na redução da pobreza extrema e da fome quando gerar emprego para os pobres", disseram as organizações.
O relatório criticou o aumento da demanda por biocombustíveis (que tomam espaço de cultivos alimentícios), a especulação financeira nos mercados de alimentos e os gargalos na oferta e distribuição de alimentos, levando ao desperdício de quase um terço da produção.
Nas últimas duas décadas, a fome caiu quase 30% na Ásia e no Pacífico, graças a avanços sócio-econômicos. A África foi a única região onde o número de famintos cresceu no período, de 175 milhões em 1990-1992 para 239 milhões em 2010-2012.
Analistas da FAO e do Programa Mundial de Alimentos disseram que as novas cifras refletem ajuste no tamanho da população e na altura média das pessoas, além de levarem em conta uma avaliação mais detalhada da disponibilidade alimentar e dos desperdícios na cadeia de distribuição.
Fonte: Último Segundo
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