segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Fidel comparece à sessão de abertura de novo Parlamento em Cuba


O líder cubano Fidel Castro, que governou o país por 49 anos, reapareceu no domingo na sessão de abertura da Assembleia Nacional depois de se ausentar repetidamente por causa de uma doença grave que sofreu em 2006.

Reuters
Líder cubano Fidel Castro (E) comparece à sessão de abertura de Assembleia Nacional juntamente com seu o presidente cubano, seu irmão Raúl Castro

Segundo a agência de notícias estatal AIN, Fidel, 86, e o presidente cubano, seu irmão Raúl Castro, participaram de uma sessão solene da Assembleia Nacional, no Palácio das Convenções. A imprensa estrangeira tem acesso apenas à sessão de encerramento, à tarde, quando discursa o presidente cubano.
Fidel continua a ser um deputado após renunciar a todos os cargos, incluindo o de primeiro-secretário do Partido Comunista de Cuba (PCC). A Assembleia Nacional (Parlamento) é o órgão supremo do poder do Estado.
O ex-presidente cubano foi visto pela última vez na eleição geral do dia 3, quando conversou por mais de uma hora com admiradores e jornalistas cubanos em Havana, na sua primeira aparição pública prolongada desde 2010.
Transição em Cuba?
Neste domingo, a expectativa é a de que Raúl seja reeleito como presidente de Cuba. Eleito em 2008 para substituir Fidel, Raúl, porém, defende a limitação do mandato das autoridades cubanas a dois termos. Se cumprir o que diz acreditar, hoje deve ser o início do fim de sua estada no poder.
À medida que a velha guarda cubana se prepara para deixar o poder, os antigos revolucionários trabalham para garantir a sobrevivência do regime no futuro. E isso significa encontrar um sucessor para Raúl.
Até o momento, no entanto, o regime não tem dado muitas pistas. A escolha do número dois do regime, o primeiro-vice-presidente pode dar alguma pista. O posto até agora tem sido ocupado por outro revolucionário octogenário. Uma das apostas é Miguel Díaz-Canel, 53 anos, membro do Politburo que cada vez aparece ao lado de Raúl em eventos oficiais.
A prioridade por enquanto do governo é tocar as reformas que têm como objetivo reverter a ineficiência da economia fortemente controlada pelo Estado cubano.
O resultado mais óbvio das reformas tem sido a explosão de pequenos negócios, de manicures a jardinagem por hora. Tais atividades foram legalizadas na tentativa do governo de diminuir o peso da folha de pagamento estatal.
"Ganhava 400 pesos por mês (R$ 32). Agora consigo ganhar tanto quanto meu trabalho render”, diz Eduardo García, que tem uma oficina de consertos de TVs e rádios. Uma das TVs de tela plana que espera conserto na oficina vale cerca de R$ 4 mil, um bom indicativo das mudanças em curso na ilha.
Assim como outros 500 milhões de trabalhadores autônomos, García não tem só o que comemorar. “É como se tivessem desatado nossas mãos, mas não os nossos pés. Estamos trabalhando sob muita pressão”, diz. Ele reclama que o monopólio estatal sobre produtos importados e a falta de um mercado de peças dificulta muito seu trabalho.
“Mas por 54 anos ninguém pensou que isso pudesse vir a ser possível”, diz. “É como uma máquina, lenta no início. Mas espero que as coisas melhorem”, afirma.
Como lidar com as grandes estatais que ainda dominam a economia cubana é o próximo desafio do novo governo a ser formado a partir deste domingo. O mais novo experimento do governo Castro será dar mais autonomia às empresas, para impulsionar a eficiência. Outra medida deve limitar o número de cooperativas, com exceção da agricultura.
Uma citação de Raúl que circula por Havana dá o tom das mudanças. “A batalha da economia é hoje, mais do que nunca, nossa principal tarefa.”
Tarefa árdua
“Trata-se de uma batalha, e o futuro de Cuba depende dos resultados”, afirma o economista Jan Triana, ao dizer que, cinco décadas após a revolução, Cuba está “reinventado o socialismo”. “Ganhamos a principal batalha em 1990, quando a União Soviética desapareceu e Cuba ficou sozinha no mundo. Foi difícil, mas estamos vivos”, diz.
Mas à medida que os novos deputados assumam seus assentos no Parlamento e os novos líderes de Cuba sejam indicados, a preocupação será a árdua tarefa que ainda existe pela frente.
Sob a presidência de Hugo Chávez , a Venezuela se tornou o principal aliado de Cuba, fornecendo quase todo o combustível que a ilha precisa a preços subsidiados.
Chávez voltou a Caracas esta semana , depois de meses tratando de um câncer em Havana. Mas ele continua doente e não se sabe como será a relação entre os dois países caso Chávez saia de cena. “Venezuela é uma peça importante no tabuleiro”, diz Paul Hare, ex-embaixador britânico em Havana.
“O que acontecer em Caracas vai determinar o quão rápido pode ser a abertura da economia em Cuba, se haverá a adoção de uma solução ao estilo chinês, caso a Venezuela corte os subsídios aos combustíveis. Daí a urgência das reformas”, diz. Ainda assim, o passo continua lento. “Sem pausa, mas sem precipitação”, já disse Raúl.
‘Ganho importante’
O objetido do sistema é ajustar-se sem ruir. Mas a relação entre o Estado e os cidadãos já está mudando. “Todas essas medidas que fazem os cidadãos economicamente independentes do Estado estão criando um sentimento de liberdade nas pessoas”, diz o escritor e ensaista Leonardo Padura. “É um ganho importante para a sociedade cubana”, diz.
A introdução de um imposto de renda é um claro sinal dessas mudanças, à medida que o Estado mais e mais depende do imposto recolhido entre os cubanos.
“Eles (autônomos) são o elemento dinâmico da sociedade cubana. Creio que a abertura em Cuba não virá pelas organizações políticas, mas pela quebra das barreiras levada a cabo pelos trabalhadores autônomos”, diz o ex-embaixador britânico.
As mudanças econômicas, no entanto, não têm sido acompanhadas de reformas políticas. Nas eleições do dia 3, 612 candidatos concorreram a 612 cadeiras no Parlamento.
*Com BBC e Reuters

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