O soviéticos transformaram a cachorrinha Laika em uma heroína nacional, enquanto os americanos se apaixonaram pelos animais de estimação presidenciais de Checkers a Bo. Na Venezuela, uma raça rara de um cabeludo cão pastor acabou simbolizando o legado patriótico de Hugo Chávez, que morreu em 5 de março.
O ex-presidente venezuelano resgatou os mucuchíes, que têm esse nome por causa de uma cidade andina onde a raça se originou há 400 anos, da quase extinção em 2008 ao fornecer financiamento para criar os remanescentes puro-sangues. Ele também costumava se divertir lembrando como Nevado, um cão precoce que não parava de sacudir o rabo, enfrentou seu ídolo, o herói da independência do século 19 Simón Bolívar.
"Toda vez que Chávez ia receber um líder estrangeiro, o gabinete presidencial me telefonava para garantir que eu levasse os cachorros", disse Walter Demendoza, presidente da Fundação Nevado, que trabalha para resgatar a raça. "Ele queria que o cachorro ficasse conhecido mundialmente como um símbolo de nosso país."
Chávez morreu de câncer há pouco menos de um ano, mas o interesse pelo cachorro na América Latina aumentou depois que a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, reapareceu em público em novembro depois de uma cirurgia no cérebro apaixonada por um peludo cãozinho branco dado pelo irmão de Chávez.
Da noite para o dia o cão Simón, em homenagem a Bolívar, tornou-se uma sensação da mídia. Neste mês, o sucessor de Chávez, Nicolás Maduro, nomeou uma campanha do governo para resgatar cães de rua em honra ao melhor amigo do Libertador.
Graças aos esforços de Chávez, há agora quase 200 mucuchíes puro-sangue, e o cachorro está a caminho de ser incluído no grupo de 343 raças oficialmente reconhecidas pela Organização Canina Mundial.
O maior contingente, incluindo os pais do novo "primeiro cachorro" da Argentina, vivem em áreas de alta altitude conhecidas como páramos, na extrema margem norte dos Andes na Venezuela.
Foi aqui na vila de Mucuchíes, a 3 mil metros acima do nível do mar, que o maior encontro canino da história da Venezuela aconteceu. Segundo a lenda, o Exército de Bolívar se aproximava de uma fazenda em 1813 quando combatentes da independência foram impedidos de avançar por um cão de guarda gigante que não parava de latir. Com as armas em punho, os rebeldes estavam a ponto de matar o cão quando Bolívar, maravilhado por sua beleza e bravura, lhes ordenou que recuassem.
"Eles iam matá-lo como uma fera, mas Bolívar os impediu", disse Edgar Albarrán, um criador em Mucuchíes que cumprimenta turistas usando uma tradicional vestimenta de lã vermelha e um chapéu de palha.
O cão recebeu o nome de Nevado por causa dos pelos brancos semelhantes aos picos dos Andres e foi dado a Bolívar pelo proprietário da fazenda. Os dois se tornaram inseparáveis, exceto quando Nevado foi roubado brevemente pelo Exécito leal à Espanha em uma tentativa de fazer o Libertador da América do Sul cair em uma armadilha.
O cão morreu na última batalha pela guerra da independência da Venezuela, em 1821. Embora honrado por uma estátua na praça central de Mucuchíes, o cachorro quase foi inteiramente esquecido. Turistas venezuelanos que vão à cidade não tinham conhecimento sobre a história contada sobre o animal ou mesmo sobre a existência dessa raça, confundindo-a com a do são bernardo.
Na verdade, os mucuchíes têm mais relação com outro cão de montanha, o mastim dos Pirinéus, que foi trazido ao Novo Mundo pelos conquistadores espanhóis e usado no rebanho de ovelhas.
Embora a América Latina tenha várias raças distintas, do chihuahua mexicano ao cachorro sem pelos do Peru, nenhum deles pode competir com o significado histórico dos mucuchíes, diz Rafael Malo Alcrudo, um juiz de concurso de cachorros e criador que ganhou prêmios na Espanha com o mastim dos Pirinéus.
"É uma raça extremamente nobre", disse Malo Alcrudo, que em 2012 visitou os canis da Fundação Nevado.
Para Chávez, que era obcecado por todas as coisas relacionadas a Bolívar e constantemente evocava o pensamento político do líder em discursos, não poderia haver um símbolo mais potente da identidade nacional. Alguns dizem que ele privadamente nutriu o desejo de honrar Nevado no Panteão Nacional em Caracas, onde os pais fundadores da Venezuela foram enterrados.
Fonte: Último Segundo
0 comentários:
Postar um comentário