Das 2.291 famílias em situação de pobreza no município de Nordestina, 950 delas vivem sem perspectiva de vida, em extrema situação de miséria, retratando a dura e crua realidade desse povo castigado pela seca.
Essas famílias da região estão morrendo de fome e sede devido à pior seca dos últimos 40 anos.
Com uma população de 12.371 habitantes e uma área territorial de 468 km², o município de Nordestina, onde predomina a agricultura familiar, desponta também, de forma negativa na estatística de acessibilidade ao campo de trabalho com 0.07% e habitação com 0.59%. Localizada no polígono das secas, zona sisaleira, região de poucas chuvas e distante 240 km de Salvador, a comunidade tem a prefeitura, como principal fonte de emprego, o que requer uma atenção maior por parte dos governantes. A economia local está restrita ao comércio, funcionários municipais, aposentados e benefícios da Bolsa Família e BPC.
Para se conhecer a extrema pobreza não é necessário andar muito. A comunidade de Palha, área quilombola da zona rural de Nordestina, é um exemplo, onde moram várias famílias esquecidas pela sociedade . Com o marido desempregado e vivendo em condições subumanas numa pequenina casa de taipa de dois cômodos, 4x3 metros, com piso de areia batida, com quatro filhos (um deficiente), a doméstica Ana Paula Silva Reis, 25 anos é um exemplo de miséria absoluta, tendo como única fonte de renda para sobrevivência da todos R$ 166 que recebe da Bolsa Família.
Envergonhada com a situação que vive e sem querer mostrar a casa por dentro, Ana Paula disse que o dinheiro que recebe da Bolsa Família, mal dá para comprar algumas coisas para comer e fraldas para o filho deficiente que precisa estar na escola.
“Olha moço, tem dia que temos o que comer, em outros não. Farinha, só quando minha mãe recebe o dinheiro da aposentadoria para nos dar um pouco. Tenho fé em Deus, que vai aparecer um cristão, que vai olhar para nós e vai construir nosso sonho, que é uma casa para que eu possa viver com um pouco de dignidade com meu marido e os quatro filhos que não tem um lugar para dormir”, desabafa emocionada Ana Paula, lembrando que vai ter que arrumar o que fazer para poder levar comida para dentro de casa porque seu marido, que trabalhava em um motor de sisal está sem fazer nada por causa da paralisação das maquinas de desfibramento.
Menos dramático, mas preocupante também, é a situação da aposentada Enedite da Silva Reis, 58 anos, mãe de 12 filhos, que recebe R$ 500 por mês e ainda tem que ajudar os filhos com a compra de farinha para alimentar os netos.
O lavrador Anfilófio Monteiro da Silva Reis, 60 anos, comentou que trabalhava em um motor de sisal e chegava a ganhar até R$ 80,00 por semana, e agora está desempregado porque as maquinas estão paradas por causa do sol escaldante que fez o sisal murchar, deixando as folhas sem condições de desfibrar, o que vem dificultando a oferta de trabalho na região.
Até o cacto está morrendo no pasto
O lavrador José Ferreira da Silva, disse que não via o açude municipal secar há 40 anos: “Pra mim essa é a pior seca que já vi em minha vida. Se Deus não tiver pena de nós, seres humanos e dos animais, não vai ficar nada vivo. Os mananciais estão secos, as pastagens esturricadas pelo sol escaldante e os animais dizimados pela fome e sede. Um carro-pipa de água custa entre R$ 70 e R$ 150 – de acordo com o tamanho do tanque pipa e da distância da propriedade” relata.
O criador José Paulo Guimarães Filho, 66 anos, Fazenda Queimada da Farinha, disse que essa é a primeira vez que vê uma seca tão seria: “Até a palma que é um cacto resistente ao sol, está morrendo no pasto e a pindoba, que vem servindo de alimentação alternativa para o gado”.
Sobre a pindoba ele garante que pode ser uma bomba mortal para o animal que comer sua folha em demasia e não conseguir digerir em tempo hábil porque ela possui uma fibra bastante resistente e pode embuchar no estomago do animal, levando-a a morte. “Mesmo sabedor desse risco que corremos, não sei o que seria de nós se não existisse a pindobeira para darmos ao gado nessa hora tão difícil que vivemos com a seca” disse.
A secretária de Assistência Social, Maria das Graças Moura Lopes, garante que se não chover dentro de mais alguns dias, as aulas no município poderão ser suspensas.
Fonte: Último Segundo
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