terça-feira, 10 de setembro de 2013

Espionagem contra Dilma atrapalha lobby dos EUA para venda de caças

O episódio de espionagem norte-americana sobre os contatos da presidente Dilma Rousseff pode ter acabado com as chances dos Estados Unidos de firmar um contrato com o Brasil para a venda de 36 caças para reequipar as Forças Armadas. A decisão a ser tomada pela presidente Dilma Rousseff deverá ser motivada muito mais pelo critério da “confiança mútua” entre países, que pelas vantagens técnicas do modelo norte-americano F-18 Super Hornet, fabricado pela empresa Boing.

AP
Episódio de espionagem pode ter acabado com as chances dos EUA na venda dos caças
Por se tratar de estratégia de defesa, o assunto vem sendo tratado a sete chaves pelo alto comando das Forças Armadas, pelo Ministério da Defesa e pela presidente. No entanto, é comum no governo a avaliação de que os Estados Unidos não preenchem mais os requisitos para atender ao contrato, que pode chegar a R$ 5 bilhões, definido no projeto FX-2, que prevê a reequipar as Forças Armadas.
A proposta, dizem interlocutores da presidente, foi pensada não como uma simples compra de equipamentos, mas como um acordo de longo prazo com o objetivo de desenvolver a tecnologia nacional por meio de transferência de conhecimento.
Além disso, o governo também tem levado em consideração que, nos últimos três anos, os outros dois modelos concorrentes conseguiram superar algumas desvantagens técnicas em relação ao modelo norte-americano, já utilizado por muitos países com grande desempenho.
Quando a decisão de compra foi tomada, ainda no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o caça francês Rafale, fabricado pela Dassault, era utilizado somente na França. Atualmente, a Dessault conseguiu fechar um contrato com a Índia, que já vem utilizando os aviões.
Parceria
Conta ainda em favor da França, a experiência considerada exitosa envolvendo a construção de cinco submarinos, sendo um deles de propulsão nuclear. O primeiro desses submarinos já está em fase adiantada de construção no estaleiro de Itaguaí (PR) com total transferência de tecnologia. A parceria com a França prevê a construção dos outros quatro submarinos até 2025.
O país europeu só não aceitou compartilhar a tecnologia do propulsor nuclear que servirá para o quinto submarino, por isso a Marinha brasileira já se ocupa em desenvolver o equipamento no tamanho e nas condições específicas para esse equipamento.
Pesa contra os franceses o custo mais alto da aeronave e da reposição de suas peças. No entanto, o próprio governo brasileiro pondera que esse é preço por desenvolver autossuficiência no setor, decisão tomada pela França desde o governo do presidente Charles de Gaulle, no início da década de 1960.
Já o sueco Gripen NG, da empresa Saab, era apenas um projeto quando entrou na concorrência. Hoje, já existem aviões em teste. Pesam contra a Gripen o fato de que muitos componentes são comprados de outras empresas. Conta a favor a total disposição da Suécia de transferir tecnologia para a construção de caças mais modernos, chamados de 5ª geração. O F-18 Super Honet e o Rafale fazem parte da 4ª geração de caças.
Urgência
A valorização da “confiança mútua” é posição pessoal do ministro da Defesa, Celso Amorim, que considerou gravíssimo o episódio do monitoramento dos contatos de Dilma Rousseff. Também é posição do comandante da Força Aérea Brasileira (FAB) Junite Saito, que defendeu que o critério “geopolítico” seja considerado pela presidente. Saito espera que a compra seja fechada até o final desse ano.
A urgência alegada por Saito leva em consideração o fato de que, mesmo que a compra se efetive em 1013, o governo não conseguirá garantir que os aviões estejam à disposição para substituir os aviões do tipo Mirage 2000-C, também produzidos pela Dessault, que até 2015, vencem seu prazo de uso. Dos 12 caças Mirage 2000-C, seis já saem de operação no final deste ano.
Enquanto aguardam a posição de Dilma, a Aeronáutica trabalha na definição um novo desenho de para que um nível mínimo de segurança aérea seja mantido. O governo tem ciência de que o país não terá o nível de segurança aérea atual. Este novo desenho inclui equipar as aeronaves F-5M com funções de caça e interceptador desempenhadas pelo Mirage 2000-C, até que a presidente Dilma Rousseff decida quem será o vencedor do processo de aquisição dos novos aviões.
Tensão
Enquanto não toma a decisão, Dilma tem dado chances aos Estados Unidos de tornar menos constrangedor o episódio. Na conversa de 40 minutos com o presidente Barack Obama , realizada na semana passada em São Petersburgo, na Rússia, Dilma deixou claro que cabe a ele a responsabilidade de criar condições políticas para que a visita de Estado da presidente ao país norte-americano, planejada para outubro ocorra.
Por enquanto, a viagem está suspensa. Na conversa, a presidente brasileira disse que essa condição política depende de seu conhecimento de tudo que foi monitorado.
No encontro, Obama assumiu a responsabilidade de cuidar pessoalmente do caso e prometeu uma resposta até esta quarta-feira (10). Na segunda, por meio de nota, Dilma também se referiu às denúncias de espionagem americana sobre a Petrobras, caso que ela mesma já havia citado na entrevista concedida na Russia.
A presidente considerou que as denúncias evidenciam interesses econômicos e estratégicos da espionagem dos Estados Unidos e não somente a segurança nacional e o combate ao terrorismo.

0 comentários:

Postar um comentário