O líder cubano Fidel Castro, que governou o país por 49 anos, reapareceu no domingo na sessão de abertura da Assembleia Nacional depois de se ausentar repetidamente por causa de uma doença grave que sofreu em 2006.
Segundo a agência de notícias estatal AIN, Fidel, 86, e o presidente cubano, seu irmão Raúl Castro, participaram de uma sessão solene da Assembleia Nacional, no Palácio das Convenções. A imprensa estrangeira tem acesso apenas à sessão de encerramento, à tarde, quando discursa o presidente cubano.
Fidel continua a ser um deputado após renunciar a todos os cargos, incluindo o de primeiro-secretário do Partido Comunista de Cuba (PCC). A Assembleia Nacional (Parlamento) é o órgão supremo do poder do Estado.
O ex-presidente cubano foi visto pela última vez na eleição geral do dia 3, quando conversou por mais de uma hora com admiradores e jornalistas cubanos em Havana, na sua primeira aparição pública prolongada desde 2010.
Transição em Cuba?
Neste domingo, a expectativa é a de que Raúl seja reeleito como presidente de Cuba. Eleito em 2008 para substituir Fidel, Raúl, porém, defende a limitação do mandato das autoridades cubanas a dois termos. Se cumprir o que diz acreditar, hoje deve ser o início do fim de sua estada no poder.
À medida que a velha guarda cubana se prepara para deixar o poder, os antigos revolucionários trabalham para garantir a sobrevivência do regime no futuro. E isso significa encontrar um sucessor para Raúl.
Até o momento, no entanto, o regime não tem dado muitas pistas. A escolha do número dois do regime, o primeiro-vice-presidente pode dar alguma pista. O posto até agora tem sido ocupado por outro revolucionário octogenário. Uma das apostas é Miguel Díaz-Canel, 53 anos, membro do Politburo que cada vez aparece ao lado de Raúl em eventos oficiais.
A prioridade por enquanto do governo é tocar as reformas que têm como objetivo reverter a ineficiência da economia fortemente controlada pelo Estado cubano.
O resultado mais óbvio das reformas tem sido a explosão de pequenos negócios, de manicures a jardinagem por hora. Tais atividades foram legalizadas na tentativa do governo de diminuir o peso da folha de pagamento estatal.
"Ganhava 400 pesos por mês (R$ 32). Agora consigo ganhar tanto quanto meu trabalho render”, diz Eduardo García, que tem uma oficina de consertos de TVs e rádios. Uma das TVs de tela plana que espera conserto na oficina vale cerca de R$ 4 mil, um bom indicativo das mudanças em curso na ilha.
Assim como outros 500 milhões de trabalhadores autônomos, García não tem só o que comemorar. “É como se tivessem desatado nossas mãos, mas não os nossos pés. Estamos trabalhando sob muita pressão”, diz. Ele reclama que o monopólio estatal sobre produtos importados e a falta de um mercado de peças dificulta muito seu trabalho.
“Mas por 54 anos ninguém pensou que isso pudesse vir a ser possível”, diz. “É como uma máquina, lenta no início. Mas espero que as coisas melhorem”, afirma.
Como lidar com as grandes estatais que ainda dominam a economia cubana é o próximo desafio do novo governo a ser formado a partir deste domingo. O mais novo experimento do governo Castro será dar mais autonomia às empresas, para impulsionar a eficiência. Outra medida deve limitar o número de cooperativas, com exceção da agricultura.
Uma citação de Raúl que circula por Havana dá o tom das mudanças. “A batalha da economia é hoje, mais do que nunca, nossa principal tarefa.”
Tarefa árdua
“Trata-se de uma batalha, e o futuro de Cuba depende dos resultados”, afirma o economista Jan Triana, ao dizer que, cinco décadas após a revolução, Cuba está “reinventado o socialismo”. “Ganhamos a principal batalha em 1990, quando a União Soviética desapareceu e Cuba ficou sozinha no mundo. Foi difícil, mas estamos vivos”, diz.
Mas à medida que os novos deputados assumam seus assentos no Parlamento e os novos líderes de Cuba sejam indicados, a preocupação será a árdua tarefa que ainda existe pela frente.
Sob a presidência de Hugo Chávez , a Venezuela se tornou o principal aliado de Cuba, fornecendo quase todo o combustível que a ilha precisa a preços subsidiados.
Chávez voltou a Caracas esta semana , depois de meses tratando de um câncer em Havana. Mas ele continua doente e não se sabe como será a relação entre os dois países caso Chávez saia de cena. “Venezuela é uma peça importante no tabuleiro”, diz Paul Hare, ex-embaixador britânico em Havana.
“O que acontecer em Caracas vai determinar o quão rápido pode ser a abertura da economia em Cuba, se haverá a adoção de uma solução ao estilo chinês, caso a Venezuela corte os subsídios aos combustíveis. Daí a urgência das reformas”, diz. Ainda assim, o passo continua lento. “Sem pausa, mas sem precipitação”, já disse Raúl.
‘Ganho importante’
O objetido do sistema é ajustar-se sem ruir. Mas a relação entre o Estado e os cidadãos já está mudando. “Todas essas medidas que fazem os cidadãos economicamente independentes do Estado estão criando um sentimento de liberdade nas pessoas”, diz o escritor e ensaista Leonardo Padura. “É um ganho importante para a sociedade cubana”, diz.
A introdução de um imposto de renda é um claro sinal dessas mudanças, à medida que o Estado mais e mais depende do imposto recolhido entre os cubanos.
“Eles (autônomos) são o elemento dinâmico da sociedade cubana. Creio que a abertura em Cuba não virá pelas organizações políticas, mas pela quebra das barreiras levada a cabo pelos trabalhadores autônomos”, diz o ex-embaixador britânico.
As mudanças econômicas, no entanto, não têm sido acompanhadas de reformas políticas. Nas eleições do dia 3, 612 candidatos concorreram a 612 cadeiras no Parlamento.
*Com BBC e Reuters
Fonte: Último Segundo
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